* São dois os mais fortes dos guerreiros: o tempo e a paciência.

* Em todos os seus sonhos mais belos o homem nunca soube inventar coisa mais bela do que a natureza. (Alphonse de Lamartine)

* Pelo brilho nos olhos, desde o começo dos tempos, as pessoas reconhecem seu verdadeiro Amor.(Paulo Coelho)

* O verdadeiro artista não dá atenção ao público. O público para ele não existe.(Oscar Wilde)

* Dinheiro é como o adubo: só serve quando espalhado

* O trabalho espanta três males: o vício, a pobreza e o tédio.(Voltaire)

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Sunday, September 02, 2007

UMA MULHER IMPOSSÍVEL




Minha porção mulher que até então se resguardara
É a porção melhor que trago em mim agora
É que me faz viver.

Gilberto Gil


Lendo a ZH de domingo descobri uma figura que até então nunca tinha ouvido falar...

Instigante! Seguem duas entrevistas:


O braço forte do sexo frágil

Por Ainá Vietro


A primeira imagem que se tem de Rose Marie Muraro é a de uma mulher frágil. Aos 76 anos, sofre de artrose e se locomove com cadeira de rodas. Mesmo debilitada por um câncer que estacionou, basta um dedo de prosa para se ter certeza que ali ainda está uma mulher “à frente do seu tempo”, como ela mesma diz. A lendária feminista brasileira esteve em Santa Catarina na semana passada, durante o seminário sobre a lei Maria da Penha, que combate a violência doméstica.

Rose nasceu no Rio de Janeiro, em 1930, e veio para desafiar o impossível. Nas primeiras horas de vida, as amídalas lhe causaram uma infecção generalizada, que deixou como seqüela uma artrite – pouco para lhe conter a vontade de transformar o mundo. Mesmo parcialmente cega do nascimento, com visão de apenas 5% em um olho e não enxergando nada com o outro, Rose foi além do que os médicos reservaram para ela. Aprendeu a ler no primeiro dia de aula e nunca mais se separou dos livros.

Membro da família Gebara, uma das mais daquele tempo, conheceu a pobreza e a dor muito cedo. Aos 15 anos, viu o pai morrer na sua frente e presenciou a luta pela herança da família, que deixou sua mãe sem nada.

No mesmo ano, ingressou em um dos grupos de Ação Católica Estudantil de Dom Helder Câmara. Formada em Física e Economia, escreveu mais de 30 livros e, nos anos 70, foi uma das primeiras a abraçar o movimento feminista no Brasil. Nos anos 80, foi expulsa da Editora Vozes, onde trabalhava, depois de publicar Por uma Erótica Cristã, livro que for a gota d’água para que o papa João Paulo II pedisse sua cabeça.

Rose enxergou pela primeira vez em 1996, aos 66 anos, depois de uma operação de catarata. Hoje, depois de 11 anos, sua visão novamente está afetada. Rose trabalha na segunda edição do livro Automação e o Futuro do Homem, proibido em 1975 pelo conteúdo erótico. Em Santa Catarina, Rose Marie concedeu a seguinte entrevista.

Donna ZH – Para você tudo está baseado no amor?

Rose Marie – Mulher é amor...

Donna ZH – Só amou de verdade quando acabou o primeiro casamento?

Rose Marie – Ele durou 25 anos, mas com 18 eu já corneava meu marido, por causa do meu confessor e do meu analista. Eu era católica praticante e estava querendo me tornar pós-cristã. Meu confessor disse: “Seu casamento é iníquo”. Eu tive cinco filhos, tomava conta da casa, pagava as dívidas dele e eu tinha perdido o amor por ele desde o começo, quando eu percebi que ele era um psicopata, um doente. Aí meu confessor disse: “Vai á luta!”. E o meu analista também: “Se você não descobrir uma segunda vida e descobrir o que é o prazer você nunca vai largar seu casamento”. Foi o que eu fiz.

Donna ZH – Foi difícil romper?

Rose Marie – Eu estava carregando a minha cruz, como todas as pessoas da minha época carregavam a sua. Era nessa época que todos questionavam o problema da sexualidade, do casamento. Como eu, a maioria das mulheres da minha idade saíram de seus casamentos para procurar o amor. Eu já estava à frente do meu tempo, como estou à frente do meu tempo hoje.

Donna ZH – Você costuma dizer que foi muito desejada e muitas vezes pedida em casamento depois disso. Nunca quis casar de novo?

Rosa Marie – Deus me livre, acho que a relação homem e mulher acaba quando começa o casamento. Porque quando começa o casamento vem o problema de filhos, dinheiro. A relação de desgasta. Eu não queria um contrato jurídico sobre os meus amores.

Donna ZH – As mulheres reclamam da falta de homens. Você acha que falta mesmo?

Rose Marie – Nunca faltou homem. O que falta para as mulheres é o erotismo, junto com a boa cabeça. É não ficar vidrada num homem. Eu sempre tratei o homem como um salto de sapato na jugular. Eu não tinha casos, eu tinha grandes amores. Nada se faz na vida de grande sem uma grande paixão.

Donna ZH – Seus relacionamentos eram livres?

Rose Marie – Livre em um sentido. Eu não era promiscua, mas era monógama serial, como as americanas se definem hoje.

Donna ZH – Como assim, monógama serial?

Rose Marie – Não tem o assassino serial? Eu era monógama, sempre fui monógama, nunca tive dois homens. Os homens traem as mulheres para ficar no casamento e eles são polígamos. As mulheres traem os maridos para sair do casamento e elas são monógamas. Elas não conseguem ter dois.

Donna ZH – Ao mesmo tempo não conseguem?

Rose Marie – Não dá. Dá para você ter assim uns casinhos físicos, mas não dá para amar dois homens ao mesmo tempo. Os homens conseguem porque eles não se entregam nem para uma nem para outra. Existe uma incompatibilidade entre o homem e a mulher. A mulher quer uma coisa e o homem quer outra.

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"MEMÓRIAS DE UMA MULHER IMPOSSÍVEL"

Entrevista por Inês Lima

(http://www.storm-magazine.com/arquivo/ArtigosDez_Jan/Sociedade/s_jan2002_1h.htm)

Inês Lima – Em "Memórias de uma Mulher Impossível" afirma que só refere 10% do que viveu. Qual foi o seu critério de escolha? O que deixou de fora e porquê?

Rose Marie -Falo muito de política e pouco da minha vida. O interessante, é que os homens dizem: "Como você se expôs!" e as mulheres: "Você não fala nada de si própria!" As mulheres acertaram! Não contei nada dos anos 70 quando os poetas, os artistas chegaram à minha vida e descobri a incompatibilidade entre o homem e a mulher. Não contei nada sobre a relação com meus filhos, com meu marido.Mesmo na parte política não contei as brigas. Pode ser que ainda faça isso, um livro totalmente do ponto de vista da minha subjectividade, mas não sei. É muito duro.


I.L. – Diz que não escolheu a felicidade e preferiu fazer o que tem que ser feito.

R. M. - Escolhi o impossível, algo que não fosse só para me satisfazer. Por exemplo, vários namorados meus queriam que eu largasse tudo para tomar conta deles. Eu gostava, mas disse sempre: "Não!! Vou continuar lidando com o grande mundo!" Foi uma das coisas que fiz pelo impossível. Larguei a minha felicidade. Para quê!? A maioria das mulheres que optaram por isso, ficaram dentro de casa enquanto os maridos se viravam na rua com outras. Eu disse não a várias pessoas ricas que quiseram casar comigo.


I.L. - Mas acha que um casamento desses representa a felicidade?

R. M. - A felicidade, como eu defino, é ter emprego, uma casa, um marido, é estar dentro dos padrões e dar certo dentro dos padrões do sistema. Sempre rejeitei o sistema e dei errado. Só pegava causas perdidas como a da construção do Mundo Novo até 1964, com D. Hélder! Mas jamais deixaria de fazer aquilo que sabia que, a longo, longo prazo, seria o que teria que ser feito. Quando você faz as coisas que têm que ser feitas, diz não ao seu narcisismo.


I.L. - E escolhe o mais difícil?

R. M - Escolhe o impossível! Para mim o possível é chato, porque é de antemão definido. Acho que nós, como disse a Clarice Lispector, podemos ser definidos de acordo com o que não somos. Não de acordo com o que já fizemos, mas com o que não fizemos, com o que vamos fazer.



continua...

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