24/02/2006 - 07h25 Da Folha de S Paulo Choque cultural
Barbara Gancia: Vá pentear macaco, Bono Vox!
Além de viver eternamente na contramão, a esquerda tapuia evidenciou nesta semana todo o peso de sua carranca ao mirar seus estilingues no comentário bem-humorado de Marcos Augusto Gonçalves, editor da Ilustrada, sobre o líder do U2, Bono Vox (uso o nome completo que o vocalista já aposentou, pois, para mim, Bono ainda é o marido morto da cantora Cher). Mas o que foi que Marcos disse de tão terrível para suscitar cartas iradas ao Painel do Leitor, artigos em sites de esquerda e declarações como a do ator Sérgio Mamberti, que encontrou no texto pontos em comum com "as posições da Liga Norte e de Jean-Marie Le Pen"? Calma, que o Brasil é nosso! Por mais que o show "Vertigo" tenha agradado e por mais que o guitarrista de nome boboca, The Edge, toque para chuchu, continuo achando que as músicas do U2 parecem todas iguais. E ninguém me demove da idéia de que Bono, com seus óculos para esconder pé-de-galinha, é um megabrega. Ou será que pendurar terço no microfone e vendar os olhos tal qual um Bartimeu (o cego a quem Jesus devolveu a visão) não são recursos chinfrins, mais usados nos shows de rock gospel apresentados pela Rede Vida?
Quisera que Bono tivesse a musicalidade e o bom gosto de Sting, a quem Marcos o comparou. Mas, diferentemente de Sting, Bono tenta apaziguar a consciência dos ricos doando dinheiro aos países africanos. Isso resolve alguma coisa? Será que dar dinheiro aos ditadores africanos, para que eles comprem armas e automóveis Mercedes-Benz cada vez maiores, é a solução? Nos países que Bono tenta ajudar com seu esquerdismo quimérico, a fome é sintoma da estrutura social. Pensar que se pode acabar com ela sustentando ditaduras marxistas com dinheiro do Live Aid ou o perdão das dívidas é o mesmo que acreditar em Lula quando ele diz que "desde que o Brasil foi descoberto, ninguém fez mais pelos pobres do que a gente". A esquerda pode não engolir ver Bono ser chamado de equivocado por ter elogiado Lula como se a corrupção no governo do PT não existisse. Mas não pode negar algumas verdades. Como a de que o Funrural (criado no regime militar) distribuirá em 2006 três vezes mais dinheiro do que o Fome Zero. Ou que não foi Lula, e sim Getúlio, quem criou a CLT e a legislação trabalhista. Nem foi Lula, e sim JK, quem industrializou o ABC. O resto é conversa fiada, populismo e garganta.
ALGUÉM RESPONDEU...
Resposta 18/05/2006 18:50 E olha a resposta que a enviei(bellavox):
"Bárbara,
Venho aqui fazer uma crítica a sua matéria intitulada "Vá pentear macaco, Bono Vox!". Em primeiro lugar, a escolha do título foi um tanto proposital a meu ver, com a única e exclusiva intenção de chamar a atenção. Você me diria que "sim, e não seria essa a intenção de um jornalista com sua manchete"? Sim, e qual não seria a intenção de um artista em um show de rock? O que não gostei foi da forma grosseira como você se posicionou! Tudo bem, há a liberdade de imprensa, a mesma liberdade de expressão que me faz enviar-lhe este e-mail fazendo, desta vez, você o agente passivo da crítica (veja que posição cômoda essa!). Não se pode confundir crítica com ataque e desrespeito (principalmente ao leitor)! Há grandes jornalistas nesse país, elegantes nas suas formas de escrever e que, justamente por isso, apresentam mais credibilidade. Sinto muito, mas, com esse título, tenho a impressão de que estou presenciando um "discurso" de um adolescente contra seu amigo de classe que lhe acabara de jogar uma bola de papel na cabeça! Mas o motivo de lhe escrever esse e-mail é outro! Passa pela necessidade que vejo dos jornalistas passarem a ler mais! Sim, ler! Ler para conhecer! Conhecer para poder escrever a respeito! E só se escrever sobre o que se conhece! Ora, porque te cobro isso? Porque essa é a sua profissão! Cobro da faxineira que esta saiba fazer uma boa faxina; do marceneiro que me faça uma boa mesa! Se estes não fizerem um bom serviço, o que fazemos: os deixamos de lado. Assim como fazemos com os jornalistas que não fazem seu trabalho de forma adequada! Assim, procure saber que Bono Vox não doa dinheiro aos países africanos, portanto, muito menos a ditadores africanos! Sua ação parte do simples princípio de ser uma pessoa conhecida e, portanto, consegue atingir pessoas que um “João da Silva” nunca conseguiria! O problema é que pessoas "conhecidas" não podem fazer campanhas pró-qualquer-coisa sob o risco de serem taxadas de "marketeiras".
... 18/05/2006 18:53 Ora, então devemos dificultar as coisas? Devemos deixar a cargo dos “Joãos da Silva” a dura tarefa de sensibilizar um mundo que não o conhece e nem virá a conhecer? Isso é burrice, é trocar o atalho pelo caminho mais longo e tortuoso. Querem implantar definitivamente em nossos cérebros o chip do "e o sonho acabou" e nossas mentes ranzinzas, insistentes em não dar o braço a torcer, iludidas em manter-se no pedestal de uma "intelectualidade blasé", contribuem nesse processo. Sir Bono Vox, por ele mesmo, já afirmou como s ente-se ridículo em ser uma celebridade e que já que o é assim considerado, cada um que utilize seus curingas da forma que lhes convir. E entre escolher aparecer em fotos de revistas, exibindo sorrisos amarelos, em festas de ilhas e castelos para comemorar não-sei-o-quê ele prefere frequentar favelas e hospitais na África. Puxa, que coisa, niguém antes queria saber da África: “continente cheio de pobres, isolado, graças à Deus”, muitos pensariam. Mas, hoje em dia se você vê uma foto de Bono Vox leva grátis um cenário que você não queria ver (pois ninguém quer ver!). Como um caco de vidro que ao pisar faz você lembrar-se a todo instante que o problema está lá. Você pode até não simpatizar-se com a idéia, mas você mesmo já viu que o Sr Bono Vox é engajado com as questões na África, ou seja, quando você pensa em Bono Vox você se lembra, mesmo de forma ranzinza, que a África existe! Viu como funciona!!! Me desculpe, mas só os corajosos dão conta disso, pois devido a erros de outros no passado, ficou tênue o limite entre o engajamento e auto-promoção. Ponto a mais para Sr Bono: engajado e corajoso! Não me importa! O que importa é que Dona Bárbara quando pensar em Bono vai lembrar da África ! Sim, ela existe!
... 18/05/2006 18:54 Comparar a Sting? Sim, nada mais natural. Não condeno ninguém por isso, pois estamos cheios de exemplos frustrantes pelo mundo a fora (não falo da parte musical, pois creio que religião, futebol e música são gostos individuais e isso não se discute!). É natural que, depois de tantos artistas ativistas e pseudo-ativistas, todos queiram misturá-los como farinha do mesmo saco. Procure saber sobre o perdão da dívida externa de 17 países entre africanos e americanos programado para julho, já votado pelo G8 em 2005. Verás que propaganda é a alma do negócio! Mas para a propaganda fazer efeito é preciso ser transmitida por um grande veículo: Sr. Bono Vox (sim, você pode até achar o nome esquisito, mas lembre-se que essa banda foi formada na adolescência desses rapazes. Ou você nunca fez nada de esquisito na sua adolescência? Ou você acha que "Sting= ferrão” é um nome adequado?). Ou você acha que roqueiros tem como hobby jantar com chefes de estado. Procure saber que o G8 comprometeu-se também a suprir as necessidades de medicamentos contra a AIDS na África. Claro, ainda esperamos ver para crer. Mas, veja que "perdão de dívida” não é igual a "enviar dinheiro à África" e, sim, é "ensinar a pescar"! Sem o perdão, esses países nunca teriam condições de "aprender a pescar". É o primeiro passo, já é um olhar dispensado àquele continente nunca antes “visto”.
... 18/05/2006 18:54 Procure saber sobre a EDUN (hoje em dia, com a internet, como é fácil ter conhecimento das coisas). Ahhhhhh, garanto que a NIKE você conhece! E o que a NIKE faz com a mão de obra de países subdesenvolvidos você também já deve ter ouvido falar! Não, a EDUN não vai resolver o desemprego na África, mas sabe aquela coisa de propaganda ser a alma do negócio? Exemplo: isso não tem preço! Pois garanto que nesse mundo não exista um "trilhardário" com fortuna suficiente que de forma isolada resolvesse o problema do continente africano. Já, o "exemplo" me parece ser uma fortuna maior, capaz de consolidar as mudanças e não apenas instituí-las! Somos tão acostumados com bandas de rock jogando sofás pelas janelas dos hotéis, líderes de bandas fazendo um filho em cada continente, letras com apologia a tudo-o-que-há-de-obscuro-nessa-vida, que já virou lugar comum. Como podem ser revolucionários, se todos são iguais? Verdadeira revolução é um rockeiro falar de Deus! E que difícil tarefa, pois há "bárbáros" jornalistas e jornalistas "bárbaros" que caem na cilada de criticar o que ainda não conhecem. Não conhecem o fato de que o U2 fala de questões religiosas desde seu primeiro disco, sempre de maneira sutil em suas canções sempre passíveis de diversas interpretações. Garanto que você sempre pensou que “I Will Follow” era um rock mais pesado, “One” uma mera canção de amor ou “Elevation” uma canção sexy. Mas para pessoas desinformadas, a religiosidade do U2 só foi vista quando explicitamente exibida (após uns 20 anos de estrada do grupo) por um terço pendurado ao microfone. Não sou uma pessoa religiosa, mas é delicioso essa revolução silenciosa e sutil que só a gente sabe que está fazendo: a de ser diferente!
... 18/05/2006 18:54 Se a militância de Bono traz ao U2 “rendimentos”, vejo isso como conseqüência natural. Não sejamos hipócritas, dinheiro é bom, mas não vejo na militância de Bono o objetivo de enriquecimento próprio, pois com militância ou sem militância, U2 sempre foi fenômeno mundial de vendagens. Mas soma aí a dívida de 17 países e vê quanto dá! Não to nem aí se o U2 ganha dinheiro, eu quero é a dívida desses países perdoada! Por último, não acredito que uma atitude isolada de Bono Vox vá mudar a África ou o mundo, mas me simpatizo com o ideal dele do “não desistir”. Me diga aí, o que é melhor: lutar ou cruzar os braços? Ou você é daquelas pessoas que vai do trabalho para casa para o cinema para a cama para o trabalho para a ginástica para o almoço para a reunião para a janta para a cama para o trabalho para o psicanalista para o almoço para o trabalho... E só! Não fazes nada pra tentar mudar o mundo! Não, minha alma ainda não ficou ranzinza a este ponto! Acredito na soma, na persistência, nas mudanças silenciosas e consistentes, as que geralmente envolvem o caráter e a maneira de enxergar o mundo.
escrito por bellavox.
Obs... não tem como dizer qual parte do texto é mais importante. As pessoas que fazem sucesso, ainda mais pelo mundo afora, criam opiniões. Erram, acertam. Respeito todos as opiniões. Acredito em palavras... Se admiro esse cara, não é porque ele fala demais em coisas importantes,não é porque amo as músicas, mas, principalmente porque eu acredito em ações! Ele... age! Pelo menos isso pode ser visto. E quando a gente vê o Bono na nossa frente a gente pensa... ta aí um verdadeiro artista! De repente o mundo não é tão descartável, e as pessoas podem fazer muito bem umas às outras, ou pelo menos tentar!
|
Comments on "No que você acredita?"